Publicado em 26/12/11
No último final de semana, vivi momentos antitéticos, conheci o Divino mestre da Academia da Sociedade Esportiva Palmeiras, Ademir da Guia, conversei com ele no Jogo solidário do Bauru Tênis Clube, evento organizadíssimo por Godô e sua trupe, isso ocorreu no sábado, é extasiante ver um ídolo, conversar com ele sobre seu passado, lembrar seus gols e receber elogios pela minha memória palestrina!
No domingo, acordei ainda fascinado pelo encontro com o Divino, fui ao Mirante Ferroviário ver o primeiro jogo da final da Liga Bauruense entre os guerreiros times do Industrial e do Bauru XVI, ao chegar ao complexo criado por Arnaldo Regalin, deparei-me com uma mulher que coletava latinhas e dizia em alto e bom som: "é pra garantir o leitinho das crianças", pensei por um momento na desigualdade social e que país é esse que fala em sexta economia mundial e que possui tão ricos seres pobres!
Era dia de dérbi, Palmeiras e Corinthians, jogo em que tudo pode acontecer, quando me preparei para conversar e palpitar resultados com desafetos e amigos alvinegros, soube da morte de Sócrates, um dos ídolos corintianos, tudo ou quase tudo, que tinha sorrido em meio a lágrimas com Ademir da Guia no dia anterior, veio ao chão, o Magrão tinha morrido! Lembrei-me na hora de Jorge Mendonça, Celso Zinsly, Jairo Mendonça, anjos marmanjos do esporte bretão, esses caras me fizeram gostar de futebol!
Em 1976, eu morava em Santos, próximo ao canal 2, é comum essa topografia na Baixada, residia perto da Vila Belmiro, palco de deuses do futebol, e próximo ao campo da Portuguesa Santista, a "Briosa", num sábado à tarde iriam jogar Portuguesa Santista e Botafogo de Ribeirão, falei para o meu irmão adotivo Zé de irmos a esse jogo, ele disse que seria pelada, joguinho. Fanático, como me tornei, fiquei a ouvir o jogo na AM, Rádio Atlântida, o placar estava cinco a dois para o Botafogo quando meu irmão me disse para corrermos ao estádio , ainda vimos Sócrates marcar o sexto de calcanhar, nunca mais me esqueci daquele jogador esguio, categórico e de toque refinado!
Com o passar do tempo, o Doutor veio jogar no rival, mesmo assim continuei gostando do seu futebol e quando ele se meteu com a política, fiquei perplexo e preconceituoso com seus atos, o que tem a ver um jogador com política, Sócrates me fez ler política e entendi Bertolt Brecht: "O pior analfabeto é o analfabeto político." Ele, Rita Lee, Casagrande e outro ídolo meu, Osmar Santos, participaram do "Diretas Já!", o Doutor criou a Democracia Corintiana, antes pela Seleção Brasileira, Magrão era um dos craques do canarinho esquadrão do Mestre Telê!
Fui zoado por palmeirenses e corintianos quando comprei um chuteira Topper de nome Sócrates, mas era uma forma de eu, um perna-de-pau, ser craque, é isso que os ídolos passam para a gente, a vontade de mudar, quando se lê Gandhi, tem-se vontade de mudar o mundo, quando se pensa em Zilda Arns, germina-se o anseio de se exterminar a fome, quando se lê Martin Luther King, há vontade de igualdade social, racial, entretanto e entre raros, somos tão ínfimos, carecemos de ídolos, de ética, de caráter, de política prática e como diz o outro Sócrates que bebeu veneno, enquanto o nosso bebia sabendo que era veneno, disse o filósofo: "Só sei que nada sei."
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira foi por sempre ter sido, quiçá de forma "Garrinchesca" apenas e a duras penas não driblou o álcool, chamou a morte para dançar e a vida para bailar, Magrão sabia que o tempo é implacável, mas não se deu tempo, o Doutor foi além do seu tempo, o médico não teve remédio, a receita não foi aceita, no entanto o que fica? Ficam o ídolo, o sonho, o grito de gol ecoado por todos os lados e que se deve preferir sempre o calcanhar de Sócrates ao calcanhar de Aquiles! Valeu, Sócrates, esse time do céu está cada vez mais forte e, com certeza, sem empresários da bola, sem o vil metal esporte clube, somente com sonhos de craques medonhos!
"Pois bem, é hora de ir: eu para morrer, e vós para viver. Quem de nós irá para o melhor é obscuro a todos, menos a Deus." (Sócrates, o filósofo)
SINUHE DANIEL PRETO
Nenhum comentário:
Postar um comentário