Doutor, eu não me engano, meu coração é palmeirense?!

Publicado em 03/04/12

A manchete do JC da sexta, 30 de março, estampava: “Morador de Bauru recebe coração de palmeirense agredido, mas não resiste.”  E a matéria de capa continua: “Corintiano fanático, o gerente da Telefônica, Maurício Taveira, não resistiu após receber o coração do palmeirense José Guilherme Moreira ...” Os opostos se atraem? Contraem-se? Solidarizam-se? 


Pesares, profundos pesares à família de Taveira, mas o que diria o fanático corintiano a Maurício em vida? “Pô, você recebeu um coração de palmeirense,um coração de “porco?” Não, a única coisa desse ato que não se pode chamar assim foi o “espírito de porco”, o mundo é de homens, solitários, solidários, sofredores, torcedores, opostos, dispostos, próximos, distantes, fanáticos, simpáticos, antipáticos!

Há tempos, achava que um corintiano era meu inimigo, um rival, alguém a ser ignorado, isso me rendeu discussões sem fundamentos, perdas de grandes amizades, olhares desconfiados sobre a minha futebolística identidade. O fanático é, antes de tudo, um cego, um alienado, um único no meio do grupo! No último domingo, mais um dérbi foi realizado, jogo sem igual, Palmeiras e Corinthians, clássico clássico de todas e raras classes! Como de sempre, virada, discussão, promessa de revanche, estádio, desconfiança, heróis, vilões, mas quem venceu a alegria ou a violência?

Até quando, o sufixo “cida”, “aquele que mata”, servirá para o léxico torcida? Sim, será que torcida é aquele que mata outrem por futebol, é mesmo o futebol o pano de fundo? Acredito que não, isso envolve a desigualdade social, a violência pregada por meios que não justificam os fins! Em outros idos, já fiz parte de torcida chamada organizada, “distorci” da chamada, somente chamada, organizada, porque vi violência, um jogo no extinto Mário Alves de Mendonça, em Rio Preto, Palmeiras e América, um garotinho com o pai adentrou o estádio com a camisa do São Paulo e teve sua camisa arrancada e queimada. Ali, vi o que era esse mal que não torce para a instituição, mas tem como alvo seus interesses com um time de fantoche!

Já votei em Serra por ser palmeirense, já não votei em Lula por ser corintiano, é essa a política? Por que esses pseudotorcedores não vão a Brasília pressionar os “podres poderes que dominam há zil anos”, como diria Caetano? Em 2002, o Palmeiras caiu para Segunda Divisão do futebol brasileiro e o Arcebispo corintiano Dom Evaristo Arns lamentou ao questionar a quem o Corinthians iria enfrentar?         

Sou palmeirense com espírito corintiano, isso eu encontro no meu “Peba”, o Esporte Clube Redentor, lá encontro os corintianos Biro, Tiganá, Edsinho, grenás, verdadeiros torcedores roxos! O “Peba” perdeu duas finais para o Beija-Flor de Osmarzão e alguém se matou? Não, choramos,culpamos o árbitro,mas respeitamos o gigante tricampeão! Isso é futebol, não marcar encontros desencontrados visando à morte,como diria a inteligentíssima Cecília Meireles: “Abre o túmulo e dize-me: qual de nós morreu mais? 

“Quem morre é o futebol, a arquibancada virou poltrona, o grito de gol virou um controle, o craque virou uma peça no tabuleiro,o futebol começa depois do “Faustão” ou às quartas depois da lei do silêncio, como gritar gol na lei do silêncio? É a globalização! Serei sempre o esporte, palmeirense com Corinthians, ainda que com despeito ou respeito, já que “Palmeiras não perde,é roubado!” Como diria Milton Neves: “Futebol é só a coisa mais importante entre as menos importantes!” 

Em tempo, que o Norusca suba, apesar dos torcedores de poltrona, que somente irão ao Alfredão contra os chamados “grandes”, que Bauru seja sem limites para torcer sem distorcer! Assista ao filme “Boleiros” e tente entender o impossível, o futebol! P.S. No último domingo, enviei ao amigo e corintiano, ninguém é perfeito, Jabbour, um texto com saudades de Chico Anysio, “É mentira, Terta?” E mencionei errado o nome do senhor João Carlos Travain, a quem peço desculpas, não era ideia tratá-lo como Coalhada, aliás, Coalhada era uma homenagem e não um destrato, falei do João Carlos errado, o certo era o João Carlos Facioli, que era goleador e que quando perdia gols era chamado pela minha torcida formada de trinta testemunhas, a Inferno Alvirrubro como a criatura de Chico. Em tempo, João Carlos Facioli é meu ídolo, após o gol contra o Flamengo de 78, é uma honra vê-lo por aí, senhor João Carlos Travain, desculpe-me e nunca mais citarei seu nome! O futebol já foi uma caixinha de surpresas!

SINUHE DANIEL PRETO

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