A volta da Maria Gasolina!

Publicado em 25/04/11

Em tempos de Michael Jackson, Donna Summer, Bee Gees, Kc and Sunshine Band, John Travolta e outros, minha turma e eu frequentávamos o Bancários, a Stalus, eram tempos da Universitarius e o Super Plá de Tobias Tuba Filho, Roberto Sassi, tempos da FM Sompur, depois Terra Branca, tempos da Cidade FM e depois 96 FM, tempos em que o verdadeiro “Jason” Gretchen estava em evidência, idos do calcanhar de Sócrates, do surgimento do fenômeno Lela, de “batistar”, de não ter dinheiro para ir à Casa da Eny, tempos de ir de “Quaggio” a qualquer lugar da Sem Limites!

Época essa em que se dançava música lenta, em que se comprava uma bota Paragon e em que se via a propaganda da Ellus com música de Rita Lee, tempos em que ao levarmos “tábua” de uma menina, uma mina, um broto, desdenhávamos, tal qual a raposa da uva, que o ser fêmeo era “fresco”, “metido”,  “patricinha”, no entanto, se a víamos sair à noite em uma Brasília, Corcel II, Fusca Baja, CB 400, tratava-se de uma espécie comum aos pobres, como nós, uma “Maria Gasolina”, inveja pura, que raiva do sortudo que levara a princesa do “Boa Noite, Cinderela!”. Acreditávamos no amor recíproco, que ela iria embora a pé conosco, “assim caminha a humanidade”, que o frio do assento azul do ônibus do Quaggio viraria vermelho coração, “Love is in the air”! Mas a menina adentrara a Brasília com rodas de magnésio, toca-fita TKR e ao som de “How Deep is Your Love” iria embora, como os finais de semana eram tristes, como eram  impiedosas e sem Julieta, sem Olivia “Sandy” Newton John, sem o carinho materno dessas raras e comuns Marias Gasolinas!

O governo deu um jeito nessa desigualdade emocional, sensual, econômico-social, em solidariedade aos órfãos, aos “pega nem gripe”, às vítimas das Marias Gasolinas, os políticos criaram o álcool! Um bêbado gritou de alegria, poderia beber até em posto agora! Não, o governo criara  a armadilha do álcool, coloque esse pseudocombustível no seu carro e pelas manhãs de frio empurre, reze, puxe o ejetor, faça promessa de não beber e nem usar mais álcool e será feliz! 

O brasileiro que, além de várias marias, é também uma “Maria vai com as outras”, aceitou a proposta imposta de impostos do governo e aceitou o filho adotivo álcool como seu filho prodígio. Maria Gasolina pensou em suicídio, recebeu a solidariedade de alguns consumidores, lembravam como eram bons os tempos do Carnaval na Rodrigues Alves, que hoje é pista de cross, como era bom “batistar”, mas oficinas clandestinas preparavam motoristas e carro a álcool, piadinhas permeavam o universo etílico-abastecido: “Carro a álcool é como chifre, um dia você ainda vai ter um!”. Aqui tem álcool, orgulhavam-se os postos, raros, não havia em toda esquina, como orelhões, nos dias de hoje!

Os postos e seus frentistas nem falavam bom dia, não davam pirulitos, carros, bolas, não davam bola para o consumidor! Atualmente, além dos prêmios, vendem água a preço de ouro, cerveja com preço de importada, liberam o barulho a se propagar por vias e rodovias! Os donos de postos estão a postos do capitalismo, torcem o nariz para a baixa do combustível, escondem o líquido, pensando no bruto! Os donos de postos moram em condomínio, candidatam-se a políticos, têm amigos na Petrobras, que vende o líquido mais barato ao Uruguai e à Argentina, para citar somente dois, os proprietários da armadilha chamada combustível, têm aviões, fazendas, franquias superiores a redes de fast-food! Que país é esse? Ouviram do Ipiranga às sacangens plácidas! O álcool, senhor dos postos, foi do dia para noite, a  postos abertos, transformado em etanol, parece nome de doença, não?

Alegaram os políticos que cana dá álcool e que vender álcool a esse preço dá “cana”, por isso formaram uma nova quadrilha, não se trata de Bonnie e Clyde, mas Etanol e Gasolina. Seja tolo e gaste combustível procurando o mais barato, depois de achar e enfrentar o frentista de cara feia e o dono do posto sor-ridente, tente estacionar em algum lugar de Bauru, fuja dos azuizinhos, dos radares, pague o seu IPVA, seguro, gaste água, único combustível que te ama, lavando o seu carro, que não tem culpa de ser autodirecionado ao nada! Já imaginou se fôssemos um país e boicotássemos um dia ou o feriado da Semana Santa sem viagem, sem pede+ágio = pedágio, já pensou no desespero, na queda dos preços, mas Maria Gasolina voltou, ela agora escolhe seres másculos ou fêmeos e cobra quase dois dólares o litro, mas isso não é problema de uma Pindorama Macunaímica que tem dinheiro para abastecer em  dia, por isso todos a postos: “Ai que preguiça! Ai que preguiça!”. Não esqueça: “O problema de quem não gosta de política é que é governado por quem gosta muito!”. Abasteça. Se for capaz!

SINUHE DANIEL PRETO

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