Anjo Adenir Souto

Publicado em 16/09/07

Em tempos não tão distantes, a lousa já foi chamada de quadro-negro, era áspera, o giz, talvez aquele do “Chão de Giz” de Zé “Admirável Mundo Novo” Ramalho, fazia barulho, assoviava ou assobiava ao deslizar pelo negro do quadro, eram tempos de média acima da média e eu, como muitos alunos, tinha medo de uma tal matemática, que para nós, na verdade ou na mentira, era uma tal de MÁtematica, sim, uma malvada, uma MÁdrasta das estórias infantis, uma bruxa! O xis, que sempre aparecia, lembrava uma cruz tentando endireitar-se, logo, a morte!!! Como MÁtematica era um terror! Quantas noites insones, ao saber que no dia seguinte, havia prova, sabatina, provão de MÁtematica!!! 

No entanto, um dia, nos idos da Escola Técnica de Bauru, da família Toledo, precisamente no curso técnico de Eletrônica, conheci o professor José Marta, olhar de bruxo, piadas contra o sono e com a incrível fórmula de decodificar a MÁtematica! 

Adorei as aulas de José Marta, tentei aprender a gostar da bruxa! Fui feliz, apesar dos cálculos!!! Nos anos noventa, conheci, já lecionando, o professor Toninho Schiavinato, como podia uma pessoa ser simpática e ensinar MÁtematica, como podia uma pessoa exata ser humana? Como podia um homem de cálculos, somar amizades, multiplicar sorrisos, criar amigos num conjunto de elementos racionais e irracionais sem fim? 

Exatamente no ano de 1995, conheci ,no Preve-Objetivo, o professor Adenir Souto, como podia alguém saber tanto e ser tão humilde? 

À primeira vista, seu olhar, como sempre, era para dentro, sim Adenir olhava introspectivamente, Adenir olhava para sua alma, talvez para saber se sua anima tinha ânimo, era impossível não se apaixonar por Adenir e suas histórias! 

Com Adenir, aprendi que casal, realmente, é formado por dois! Que família conjuga-se no plural!!! Que filhos são dízimas periódicas infinitas, que não se tira a raiz de amigos, pois essa raiz é para sempre! 

Adenir, até quando triste e ninguém sabia se ele o estava, era enigmático, quiçá a equação sem solução!!! Adenir queria sempre o conjunto, existiam sempre a união, a intersecção. Os elementos de Adenir somente se somavam, ele nunca os dividia, ele tinha a solução! 

Lembro-me de duas passagens interessantes ao lado deste anjo, uma de nossos churrascos depois das aulas no Objetivo de Jaú e de nossas poucas e felizes horas de sono ao lado de João “Be good” (outro que faz a BOAtematica!) e de Emerson Biral Mendes! 

Outra de um jogo na minha casa de nosso Palmeiras, na segunda divisão, contra o Sport Recife, chamei Adenir para ver o jogo e culpei-o da derrota palestrina, Adenir, como sempre, resignou-se e disse: ”Vamos subir!” 

Adenir, sua repentina ida não é possível, você é! Sinto saudades, mesmo não tendo te visto ultimamente, procurei você nos livros de cálculos, nas aulas de BOAtemática, mas me disseram que você encontrou Drummond e foi ser “gauche” na vida, que bom, Anjo-Número, reze por nós, zeros à esquerda, se é que eles existem e Adenir, a lousa, hoje, é verde, verde do nosso Verdão, mas o quadro é negro sem você! Até um dia, numa aula exatamente humana, irmão!

SINUHE DANIEL PRETO

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