Salve a mulher!

Publicado em 08/03/11

Na revista Alfa de fevereiro, na ótima entrevista do excepcional Chico Buarque de Hollanda, há um trecho interessante que revela como o compositor conhece o universo feminino. Chico afirma: “Convivi muito mais com elas do que com homens." Será esse mesmo o segredo que induz e seduz esse ser desde os primórdios de Pandora? A dúvida sobre suas dádivas é se vivemos, convivemos ou sobrevivemos com as mulheres? As películas de Pedro Almodóvar ensinaram-me a ver as mulheres sobre outra vertente, principalmente no belo filme “Fale com Ela”. Sou fruto infecto  ou impuro de uma geração machista que ensinou aos homens somente o que lhe interessava sobre as fêmeas! Como, por exemplo, não poder criar laços estreitos de amizade com o sexo oposto, não ter modos femininos, um cruzar de pernas diferente era no mínimo um sinal de maricas!


No entanto, nos anos 70, morei em Santos e usei, até para a repreensão de machistas, tamanco! Tempos depois, nas inesquecíveis aulas de Literatura do poeta profeta Luiz Vítor Martinelo, conheci a música “Super Homem”, a canção de Gilberto Gil, e nela há um trecho que me chamou a atenção: “Um dia, vivi a ilusão de que ser homem bastaria, que o mundo masculino tudo me daria. Que nada! Minha porção mulher, que até então se resguardara, é a porção melhor que trago em mim agora, é o que me faz viver!”. Não entendi de imediato o que dizia o bom baiano do Tropicalismo. Tempos depois, ouvindo e degustando essa letra, entendi um pouco mais o intangível mundo fêmeo. Será? 

Há um amigo que diz que as mulheres são como as lentes de contato, nunca sabemos em que estado vamos  encontrá-las. Recentemente, houve um especial na Rede Globo, “Afinal, o que querem as mulheres?”. Será que se chegou a alguma conclusão? Elas poderiam e merecem receber seus salários igualmente aos homens, elas poderiam  e merecem ter o mesmo respeito e reconhecimento, elas poderiam ser simples, triviais, comuns, no entanto, são complexas e imprevisíveis!

Observem-se os perfis de duas apresentadoras televisivas, a guerreira e infinita Hebe Camargo e a néscia e comum Luciana Gimenez. A loiruda gracinha é sucesso por décadas sem o apelo midiático ou estratégias para  sucesso; a outra deixou que rolassem as pedras com o cantor da mundialmente conhecida boca para conseguir de boquinha uma pensão para o seu filho Lucas! Afinal, as duas não são mulheres?

Cansou também a história de uma pseudocantora que posava de virgenzinha e perguntava   à Maria Chiquinha o que ela fora  fazer no mato e hoje faz propaganda de suco de cevada, proclamando-se “devassa”. Há realmente uma relação semântica, sedutora entre cerveja e mulher? A mulher é um corpo numa propaganda de cerveja?

Acredito que a resposta seja “não há resposta”. Há todo tipo de mulher. Por isso, a meu ver, não há generalização possível. Mulher não é tudo igual. Para mim, Madre Teresa, Hilda Hilst, Clarice Lispector, Leila Diniz, Marisa Monte, Fernanda Montenegro, Marieta Severo, Marina Silva  são mulheres. Outras, que se desvalorizam, não sabem a que vieram e aonde irão. Será Bruna Surfistinha uma mulher ou uma personagem? E qual a razão de despertar tanto sucesso e curiosidade? 

Simone de Beauvoir, companheira de Jean Paul Sartre, disse: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Frase de filósofa? Qual a resposta? Com a palavra, as mulheres!

Hoje, penso que as mulheres são únicas, plurais, e por isso, indecifráveis! Mulheres são substantivos próprios, concomitantemente, abstratos e concretos, primitivos e coletivos. Mulher é ser que sabe ser! 

Mulheres são os nomes com sobrenomes: Vera Casério Educação, Olga Bicudo Caridade, Rose da Sopa Solidariedade, Catarina Carvalho Afeto, Élida Farias Canção Samba, Bigu Pizzaria  Bambina Simpatia, Carmem Boro Paz, Dona Teresa Tokuhara do Pastel Alegria, Edna Campana Fé, Sônia Fiochi Confiança, Maria Celina Nicoletti Mente, Minha Sandra Helena Preto Mãe!

Creio que há homens que continuam homens, mas se mulherizaram. Deve ser o caso do doutor Marcos Cabelo, que de tanto ouvir, ver, curar, cesarianar mulheres, mulherizou-se na alma e permanece homem no corpo. Que inveja!

E creio que há homens que viraram anjos e que de lá do céu olham pelas mulheres-mãe, oferta-lhes a cura e a sabedoria perante seus rebentos. É o caso, com toda certeza, do médico-guru Oswaldo Garcia Maldonaldo! “Mulher, mesmo sem nunca ter te conhecido e convicto de que jamais te conhecerei, venero-te. Por isso, não te decifro e ignoro-te! Para males, mulher!” Parabéns, mulher!

SINUHE DANIEL PRETO

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