Publicado em 30/06/13
Um dos assuntos que mais me fascina na nossa amada e maravilhosa Língua Portuguesa é o modo imperativo do verbo! Como somos subordinados a um subordinante comum em forma de pedido, apelo, que, muitas vezes, é uma mensagem subliminar, mando e desmando, sedução e condução! Como quereria que nossos “podres poderes” interpretassem como um imperativo: “ORDEM e PROGRESSO”.
Nos últimos dias, creio eu, perguntar-se-iam Antônio Carlos Meira, Sônia Mozer, Paulo Neves, Álvaro Leoni, Adriano Ferreira, Fábio Palotta, Antônio Tuco Vicenzo, o que está acontecendo? O que são estas manifestações? Seriam festas de ações manifestadas? De que partido tem partido tudo isso? Penso, mestres, a quem admiro, não há respostas, proliferam-se perguntas! Seria uma película “Os Sonhadores”? Um ataque de jovens não tão “Edukators”? Nessas últimas semanas, pensei que sonhara, que maravilha, há quanto tempo clamamos por isso, Oscar Neto, Léo do Rasi, Léo Amantini Júnior, Tobias Terceiro, Allan Weslei Pereira? O pacato cidadão virou desacato cidadão, mas com classe e por todas as classes; os partidos de início P foram para a PQP!
O Facebook tornou-se a arma do mesmo Marcelo Falcão do “vem pra rua“ do Falcão do Rappa: “A minha alma tá armada e apontada para cara do sossego! Pois paz sem voz, paz sem voz, não é paz, é medo!“. Pareceu até que “fez-se book”, Caio Fernando Abreu, Clarice, auto-ajudas, vampiros, lamentos, momentos e tormentos, viraram um caso de política! Sensacional!
Mas voltando ao imperativo, o #vemprarua tem uma mistura de tratamento, segundo a Gramática Normativa, mas o que importa neste momento? Importa é o tratamento da mistura o grito aflito, o novo povo, o mundo não imundo, o péssimo político ficou com medo, sentiu de perto o nosso medo, o medo da fome, do transporte, da saúde, esses opressores foram alvos de rolos compressores! A massa amassa, Excelência, que, aliás, nunca vi, só demência, ganância!
E os bancos que tanto botam banca? Os capitalistas não captam mais listas! Chegaram a fazer juras que não haveria juro, “Jurei mentiras e sigo sozinho...“. Nunca o imperativo foi tão lenitivo, curativo, decisivo! Tentarão nos enganar sempre, mas tenho esperança de que nos tornamos fortes! Urge que sejamos fortes a toda sorte, na nossa Bauru, "saúde!" não pode ser mais uma interjeição após um espirro, se o prefeito é tão amigo do ministro, o que ainda se espera para a saúde chegar a esta Sem Limites? “Os políticos são como as fraldas: devem ser trocados com frequência e pelo mesmo motivo” (Eça de Queirós).
SINUHE DANIEL PRETO, um moleque de rua com muito orgulho!
Sinuhe Daniel Preto
Reunião dos melhores escritos de Sinuhe Daniel Preto.
Estrela Vermelha
Publicado em 02/12/12
O assunto poderia ser político como a Estrela Vermelha, um pentagrama do comunismo ou do socialismo, não haveria como não citar Karl Marx ou Friedrich Engels, mas a verdade é que o papo é sobre futebol, esse esporte bretão que, segundo Milton Neves, é “apenas o assunto mais importante entre os menos importantes”. No entanto, não seria o ludopédio um tema político? Veja o caso do nosso Esporte Clube Noroeste, há meses poucos, falava-se em seu fim, em trem fora dos trilhos, que não sobreviveria, agora bicampeão da Copa Paulista!
Na iminência das eleições para presidente do Norusca, cinco, cinco, como as pontas da estrela, cinco chapas candidataram-se para liderar nosso trem bala!
A camisa vermelha de Xandu, Irineu Pé-de-Boi, Zeola, Lorico, Lela, São João Marcos, Baroninho está em alta, o título conquistado pelo Norusca lavou nossa alma, enquanto Bauru estava na nona posição dos Jogos Abertos do Interior atrás de Americana e Pindamonhangaba, o Esporte Clube Noroeste era visto em rede nacional conquistando um título! Chico Dias não sabia se gritava, ficava pelado ou tomava mais uma, Vanderlei “Delei” Valério sonhava numa final da Copa do Brasil de 2013 contra o seu Santos de Neymar Jr, e ficava na dúvida para quem torcer; João Jabbour não sabia se fazia o editorial do Segunda-Feira falando do Norusca, Eduardo Mauad gritava que era tri, Libertadores e o bi do Vermelhinho, Claudinho do Queijo pensava em inventar o produto do leite na cor vermelha; Leonardo de Brito, cumprimentado Em Confiança pelo país todo, ostentava o manto Ah! Eu sou Norusca!
Samuel Ferro gritava aos quatro cantos de Agudos: Noruscaaaaaaaa! João Carlos Amaral pensava em fazer a festa do Vermelho e Branco, Pavanello refletia por que vale a pena ter a Sangue Rubro, Marcão “Music Sound” queria somente vender cds com o hino do alvirrubro, eu chorava em São José dos Campos e perguntava aos joseenses quando haviam gritado é campeão no futebol, vinguei o basquete!
A verdade é que o Esporte Clube Noroeste tem camisa, o bauruense precisa de uma vez por todas ostentar este manto, precisa levar os filhos, os netos, os vizinhos ao Alfredão, precisa comprar acessórios, mostrar que não importa a divisão, o que importa é o Norusca!
Espero que o novo presidente saiba da grandeza deste time e que o faça cada vez maior, que monte uma equipe, com aquele velho sistema: um goleiro, um becão, um meia e um matador. O técnico? Sugiro Luís Carlos Martins. Plano B? Sérgio Soares!
Urge rapidez, pois há necessidade de todas as forças da cidade para voltarmos à elite paulista e continuar no cenário nacional! Porque este Esporte Clube Noroeste tem Estrela e tão viva, tão política, tão comunitária quanto a Vermelha! Avante, Noroeste!
SINUHE DANIEL PRETO, mas poderia ser vermelho e branco!
O assunto poderia ser político como a Estrela Vermelha, um pentagrama do comunismo ou do socialismo, não haveria como não citar Karl Marx ou Friedrich Engels, mas a verdade é que o papo é sobre futebol, esse esporte bretão que, segundo Milton Neves, é “apenas o assunto mais importante entre os menos importantes”. No entanto, não seria o ludopédio um tema político? Veja o caso do nosso Esporte Clube Noroeste, há meses poucos, falava-se em seu fim, em trem fora dos trilhos, que não sobreviveria, agora bicampeão da Copa Paulista!
Na iminência das eleições para presidente do Norusca, cinco, cinco, como as pontas da estrela, cinco chapas candidataram-se para liderar nosso trem bala!
A camisa vermelha de Xandu, Irineu Pé-de-Boi, Zeola, Lorico, Lela, São João Marcos, Baroninho está em alta, o título conquistado pelo Norusca lavou nossa alma, enquanto Bauru estava na nona posição dos Jogos Abertos do Interior atrás de Americana e Pindamonhangaba, o Esporte Clube Noroeste era visto em rede nacional conquistando um título! Chico Dias não sabia se gritava, ficava pelado ou tomava mais uma, Vanderlei “Delei” Valério sonhava numa final da Copa do Brasil de 2013 contra o seu Santos de Neymar Jr, e ficava na dúvida para quem torcer; João Jabbour não sabia se fazia o editorial do Segunda-Feira falando do Norusca, Eduardo Mauad gritava que era tri, Libertadores e o bi do Vermelhinho, Claudinho do Queijo pensava em inventar o produto do leite na cor vermelha; Leonardo de Brito, cumprimentado Em Confiança pelo país todo, ostentava o manto Ah! Eu sou Norusca!
Samuel Ferro gritava aos quatro cantos de Agudos: Noruscaaaaaaaa! João Carlos Amaral pensava em fazer a festa do Vermelho e Branco, Pavanello refletia por que vale a pena ter a Sangue Rubro, Marcão “Music Sound” queria somente vender cds com o hino do alvirrubro, eu chorava em São José dos Campos e perguntava aos joseenses quando haviam gritado é campeão no futebol, vinguei o basquete!
A verdade é que o Esporte Clube Noroeste tem camisa, o bauruense precisa de uma vez por todas ostentar este manto, precisa levar os filhos, os netos, os vizinhos ao Alfredão, precisa comprar acessórios, mostrar que não importa a divisão, o que importa é o Norusca!
Espero que o novo presidente saiba da grandeza deste time e que o faça cada vez maior, que monte uma equipe, com aquele velho sistema: um goleiro, um becão, um meia e um matador. O técnico? Sugiro Luís Carlos Martins. Plano B? Sérgio Soares!
Urge rapidez, pois há necessidade de todas as forças da cidade para voltarmos à elite paulista e continuar no cenário nacional! Porque este Esporte Clube Noroeste tem Estrela e tão viva, tão política, tão comunitária quanto a Vermelha! Avante, Noroeste!
SINUHE DANIEL PRETO, mas poderia ser vermelho e branco!
Anjo Adenir Souto
Publicado em 16/09/07
Em tempos não tão distantes, a lousa já foi chamada de quadro-negro, era áspera, o giz, talvez aquele do “Chão de Giz” de Zé “Admirável Mundo Novo” Ramalho, fazia barulho, assoviava ou assobiava ao deslizar pelo negro do quadro, eram tempos de média acima da média e eu, como muitos alunos, tinha medo de uma tal matemática, que para nós, na verdade ou na mentira, era uma tal de MÁtematica, sim, uma malvada, uma MÁdrasta das estórias infantis, uma bruxa! O xis, que sempre aparecia, lembrava uma cruz tentando endireitar-se, logo, a morte!!! Como MÁtematica era um terror! Quantas noites insones, ao saber que no dia seguinte, havia prova, sabatina, provão de MÁtematica!!!
No entanto, um dia, nos idos da Escola Técnica de Bauru, da família Toledo, precisamente no curso técnico de Eletrônica, conheci o professor José Marta, olhar de bruxo, piadas contra o sono e com a incrível fórmula de decodificar a MÁtematica!
Adorei as aulas de José Marta, tentei aprender a gostar da bruxa! Fui feliz, apesar dos cálculos!!! Nos anos noventa, conheci, já lecionando, o professor Toninho Schiavinato, como podia uma pessoa ser simpática e ensinar MÁtematica, como podia uma pessoa exata ser humana? Como podia um homem de cálculos, somar amizades, multiplicar sorrisos, criar amigos num conjunto de elementos racionais e irracionais sem fim?
Exatamente no ano de 1995, conheci ,no Preve-Objetivo, o professor Adenir Souto, como podia alguém saber tanto e ser tão humilde?
À primeira vista, seu olhar, como sempre, era para dentro, sim Adenir olhava introspectivamente, Adenir olhava para sua alma, talvez para saber se sua anima tinha ânimo, era impossível não se apaixonar por Adenir e suas histórias!
Com Adenir, aprendi que casal, realmente, é formado por dois! Que família conjuga-se no plural!!! Que filhos são dízimas periódicas infinitas, que não se tira a raiz de amigos, pois essa raiz é para sempre!
Adenir, até quando triste e ninguém sabia se ele o estava, era enigmático, quiçá a equação sem solução!!! Adenir queria sempre o conjunto, existiam sempre a união, a intersecção. Os elementos de Adenir somente se somavam, ele nunca os dividia, ele tinha a solução!
Lembro-me de duas passagens interessantes ao lado deste anjo, uma de nossos churrascos depois das aulas no Objetivo de Jaú e de nossas poucas e felizes horas de sono ao lado de João “Be good” (outro que faz a BOAtematica!) e de Emerson Biral Mendes!
Outra de um jogo na minha casa de nosso Palmeiras, na segunda divisão, contra o Sport Recife, chamei Adenir para ver o jogo e culpei-o da derrota palestrina, Adenir, como sempre, resignou-se e disse: ”Vamos subir!”
Adenir, sua repentina ida não é possível, você é! Sinto saudades, mesmo não tendo te visto ultimamente, procurei você nos livros de cálculos, nas aulas de BOAtemática, mas me disseram que você encontrou Drummond e foi ser “gauche” na vida, que bom, Anjo-Número, reze por nós, zeros à esquerda, se é que eles existem e Adenir, a lousa, hoje, é verde, verde do nosso Verdão, mas o quadro é negro sem você! Até um dia, numa aula exatamente humana, irmão!
SINUHE DANIEL PRETO
Em tempos não tão distantes, a lousa já foi chamada de quadro-negro, era áspera, o giz, talvez aquele do “Chão de Giz” de Zé “Admirável Mundo Novo” Ramalho, fazia barulho, assoviava ou assobiava ao deslizar pelo negro do quadro, eram tempos de média acima da média e eu, como muitos alunos, tinha medo de uma tal matemática, que para nós, na verdade ou na mentira, era uma tal de MÁtematica, sim, uma malvada, uma MÁdrasta das estórias infantis, uma bruxa! O xis, que sempre aparecia, lembrava uma cruz tentando endireitar-se, logo, a morte!!! Como MÁtematica era um terror! Quantas noites insones, ao saber que no dia seguinte, havia prova, sabatina, provão de MÁtematica!!!
No entanto, um dia, nos idos da Escola Técnica de Bauru, da família Toledo, precisamente no curso técnico de Eletrônica, conheci o professor José Marta, olhar de bruxo, piadas contra o sono e com a incrível fórmula de decodificar a MÁtematica!
Adorei as aulas de José Marta, tentei aprender a gostar da bruxa! Fui feliz, apesar dos cálculos!!! Nos anos noventa, conheci, já lecionando, o professor Toninho Schiavinato, como podia uma pessoa ser simpática e ensinar MÁtematica, como podia uma pessoa exata ser humana? Como podia um homem de cálculos, somar amizades, multiplicar sorrisos, criar amigos num conjunto de elementos racionais e irracionais sem fim?
Exatamente no ano de 1995, conheci ,no Preve-Objetivo, o professor Adenir Souto, como podia alguém saber tanto e ser tão humilde?
À primeira vista, seu olhar, como sempre, era para dentro, sim Adenir olhava introspectivamente, Adenir olhava para sua alma, talvez para saber se sua anima tinha ânimo, era impossível não se apaixonar por Adenir e suas histórias!
Com Adenir, aprendi que casal, realmente, é formado por dois! Que família conjuga-se no plural!!! Que filhos são dízimas periódicas infinitas, que não se tira a raiz de amigos, pois essa raiz é para sempre!
Adenir, até quando triste e ninguém sabia se ele o estava, era enigmático, quiçá a equação sem solução!!! Adenir queria sempre o conjunto, existiam sempre a união, a intersecção. Os elementos de Adenir somente se somavam, ele nunca os dividia, ele tinha a solução!
Lembro-me de duas passagens interessantes ao lado deste anjo, uma de nossos churrascos depois das aulas no Objetivo de Jaú e de nossas poucas e felizes horas de sono ao lado de João “Be good” (outro que faz a BOAtematica!) e de Emerson Biral Mendes!
Outra de um jogo na minha casa de nosso Palmeiras, na segunda divisão, contra o Sport Recife, chamei Adenir para ver o jogo e culpei-o da derrota palestrina, Adenir, como sempre, resignou-se e disse: ”Vamos subir!”
Adenir, sua repentina ida não é possível, você é! Sinto saudades, mesmo não tendo te visto ultimamente, procurei você nos livros de cálculos, nas aulas de BOAtemática, mas me disseram que você encontrou Drummond e foi ser “gauche” na vida, que bom, Anjo-Número, reze por nós, zeros à esquerda, se é que eles existem e Adenir, a lousa, hoje, é verde, verde do nosso Verdão, mas o quadro é negro sem você! Até um dia, numa aula exatamente humana, irmão!
SINUHE DANIEL PRETO
Até que a violência nos separe!
Publicado em 19/12/04
As luzes das ruas não são somente, então, iminências do Natal, são sirenes!
Não há só renas, trenós e papais-noéis, há também cavalos, cães ferozes e irracionais, veículos a perseguir o cotidiano interminável, há soldados prontos contra o tudo e o nada!
As cercas, antigamente, eram balaústres, separavam-nos do amigo vizinho e despencavam chuchus, tomates, buxos e outras xepas!
Hoje, são cercas elétricas tentando inibir o mal, conter a desigualdade social, a revolta, a frustração.
As cadeiras, antes, sobre a calçada à hora do jornal televisivo, momento de pôr a conversa em dia, prosear novos “causos”, hoje cadeiras elétricas, cadeiras que punem homens “à espera de um milagre”!
Onde andam nossos amigos? A quem posso sorrir? Devo abraçar causas ou pessoas? “A mão que afaga é a mesma que apedreja”? Onde posso estacionar e não ser refém dos pseudoguardadores de veículos?
O que é violência? Quais as cores da violência? Qual o cheiro da violência?
Violência é guardar o seu veículo e não aceitarem moedas ínfimas?
Violência é tirar o racha na Getúlio?
Violência é não se cumprimentar no elevador do prédio?
Violência é abrir túmulos no cemitério?
Violência é não ceder o lugar ao idoso?
Violência é não poder namorar em lugares públicos?
Violência é pichar muros alheios?
Violência é fumar em restaurantes após as refeições?
Violência é curtir filmes, programas, músicas sobre violência?
Não percebo e não sei mais o que é violência, transformei-me em uma peça do universo da violência; não sei mais o que é viver sem violência!
Apenas sei onde não há violência, vou aos domingos pela manhã à igreja São Judas Tadeu, lá eu sorrio, eu oro, eu choro, eu canto, sim, até isso eu faço! Canto no grupo de canto Santa Cecília e lá encontro a Deus! Não quero pregar a paz, não sou Gandhi, não quero parecer demagogo, somente desejo que encontremos um alívio para tanta violência!
Na última quarta-feira, Cláudia Araújo, minha aluna no Colégio Seta, foi mais uma vítima da violência!
Cláudia era, na sala de aula, uma pessoa pensativa, silenciosa, reflexiva, sorria, às vezes, perguntava dúvidas esporadicamente e havia passado para a segunda fase da Fuvest, dezoito anos, uma vida pela frente!
Estou muito triste e revoltado, violentaram mais um sonho, violentaram mais um ser, violentaram o desejo de existir!
Aos pais, desejo-lhes força, principalmente, divina! Se precisarem, procurem-me na igreja São Judas Tadeu, lá se encontra a força!
Aos amigos, professores e conhecidos, desejo-lhes a reflexão, peço-lhes a prece e o bom senso!
À polícia, à lei, peço, o óbvio, a Justiça!
Ao criminoso, a quem vou denominar “seu criminoso”, não peço, nem desejo nada! O pronome “seu” já se apoderou de você, porque você, “seu criminoso”, é só seu mesmo, ninguém lhe quer, você “vive” num mundo somente seu, pois não sabe e, oxalá, nunca saberá o que é ninar uma criança, não sabe o cheiro da brisa, não conhece o barulho da chuva, desconhece o sabor de um beijo, ignora o cingir dos braços! Você, “seu criminoso”, é só seu, não me chame de “meu”, pois não o quero como amigo, não reze o “Pai nosso”, pois você não deve estar no meio de nós, você, “seu criminoso”, já sabe o que é sofrer só ou só sofrer! Desculpem-me pela revolta, mas eu só queria aprender ensinando! Que Deus a tenha, Cláudia Araújo!
SINUHE DANIEL PRETO
As luzes das ruas não são somente, então, iminências do Natal, são sirenes!
Não há só renas, trenós e papais-noéis, há também cavalos, cães ferozes e irracionais, veículos a perseguir o cotidiano interminável, há soldados prontos contra o tudo e o nada!
As cercas, antigamente, eram balaústres, separavam-nos do amigo vizinho e despencavam chuchus, tomates, buxos e outras xepas!
Hoje, são cercas elétricas tentando inibir o mal, conter a desigualdade social, a revolta, a frustração.
As cadeiras, antes, sobre a calçada à hora do jornal televisivo, momento de pôr a conversa em dia, prosear novos “causos”, hoje cadeiras elétricas, cadeiras que punem homens “à espera de um milagre”!
Onde andam nossos amigos? A quem posso sorrir? Devo abraçar causas ou pessoas? “A mão que afaga é a mesma que apedreja”? Onde posso estacionar e não ser refém dos pseudoguardadores de veículos?
O que é violência? Quais as cores da violência? Qual o cheiro da violência?
Violência é guardar o seu veículo e não aceitarem moedas ínfimas?
Violência é tirar o racha na Getúlio?
Violência é não se cumprimentar no elevador do prédio?
Violência é abrir túmulos no cemitério?
Violência é não ceder o lugar ao idoso?
Violência é não poder namorar em lugares públicos?
Violência é pichar muros alheios?
Violência é fumar em restaurantes após as refeições?
Violência é curtir filmes, programas, músicas sobre violência?
Não percebo e não sei mais o que é violência, transformei-me em uma peça do universo da violência; não sei mais o que é viver sem violência!
Apenas sei onde não há violência, vou aos domingos pela manhã à igreja São Judas Tadeu, lá eu sorrio, eu oro, eu choro, eu canto, sim, até isso eu faço! Canto no grupo de canto Santa Cecília e lá encontro a Deus! Não quero pregar a paz, não sou Gandhi, não quero parecer demagogo, somente desejo que encontremos um alívio para tanta violência!
Na última quarta-feira, Cláudia Araújo, minha aluna no Colégio Seta, foi mais uma vítima da violência!
Cláudia era, na sala de aula, uma pessoa pensativa, silenciosa, reflexiva, sorria, às vezes, perguntava dúvidas esporadicamente e havia passado para a segunda fase da Fuvest, dezoito anos, uma vida pela frente!
Estou muito triste e revoltado, violentaram mais um sonho, violentaram mais um ser, violentaram o desejo de existir!
Aos pais, desejo-lhes força, principalmente, divina! Se precisarem, procurem-me na igreja São Judas Tadeu, lá se encontra a força!
Aos amigos, professores e conhecidos, desejo-lhes a reflexão, peço-lhes a prece e o bom senso!
À polícia, à lei, peço, o óbvio, a Justiça!
Ao criminoso, a quem vou denominar “seu criminoso”, não peço, nem desejo nada! O pronome “seu” já se apoderou de você, porque você, “seu criminoso”, é só seu mesmo, ninguém lhe quer, você “vive” num mundo somente seu, pois não sabe e, oxalá, nunca saberá o que é ninar uma criança, não sabe o cheiro da brisa, não conhece o barulho da chuva, desconhece o sabor de um beijo, ignora o cingir dos braços! Você, “seu criminoso”, é só seu, não me chame de “meu”, pois não o quero como amigo, não reze o “Pai nosso”, pois você não deve estar no meio de nós, você, “seu criminoso”, já sabe o que é sofrer só ou só sofrer! Desculpem-me pela revolta, mas eu só queria aprender ensinando! Que Deus a tenha, Cláudia Araújo!
SINUHE DANIEL PRETO
"O bêbado e a equilibrista"
Publicado em 15/07/08
Moravam em prédios vizinhos e eram inevitáveis os encontros na padaria, na quitanda, no mercadinho do bairro. Às vezes, caminhavam lado a lado sem se perceberem, como é normal neste mundo tão anormal!
Chegou a contemplá-la colocando na rua, sem saber que dia e hora o lixeiro passaria, o lixo diário, até seu lixo era simplesmente um luxo! Vendo-a, um dia, dirigir-se ao ponto de ônibus, correu à garagem, retirou seu veículo e ofereceu a ela uma carona, eufemismo de um passeio romântico, a mulher quis resistir, no entanto, resolveu aceitar, afinal poderia ser o fim de uma curiosidade de quatro anos, lembrava-se dele da última copa , perdida para a França de Zidane, ele tinha mais cabelos, menos barriga e um carro mais popular, ela terminara um relacionamento com um homem deveras mais velho, que já não acompanhava suas idas ao parque, à academia e muito menos à banca, o parceiro trocara-a pela televisão a cabo e suas programações repetitivas, às quais muitos querem dar cabo!
Desde aquela época, quisera conhecer o misterioso homem do olhar enigmático, que sempre a fitara e nunca se apresentara, por isso, aceitou a carona, adentrou o veículo e foram ao destino de cada um , coisa do destino!
Descobriu que ele era um arquiteto, fã incondicional de Oscar Niemeyer, que amava a natureza e achava que havia lugar para o verde e também para os arranha-céus, tudo era questão de respeito e ordem, não necessariamente nessa ordem.
Enfim, depois de criticarem o governo, a moeda corrente no país, verterem lágrimas com as balas da infância do baleiro do boteco da esquina e das balas perdidas de hoje, combinaram um jantar numa tradicional tratoria da cidade, vinho, massa, cantina, olhares, risos, interjeições italianas em alto e bom som, poderia haver situações mais românticas?
Chegou o grande dia, o encontro marcado, começar algo, sim porque sempre há um meio de se encontrar um fim para um começo!
Introduziu-se o ser masculino falando de si, da vida, de amor e de sua vida ébria, fora um boêmio incorrigível e a cada prazer etílico de Baco vislumbrara obras arquitetônicas jamais vistas, palácios, pontes, casas, casebres, mansões, prédios, porém nunca conseguira ver o rosto de seus moradores, dos compradores de seus imóveis, principalmente depois que seus móveis braços e pernas tornavam-se imóveis com o vinho!
Ela preferiu falar das flores, das plantas com quem conversava sempre e que Cartola não tinha razão, pois as rosas falam, não simplesmente exalam, falam e calam como qualquer outro! A solidão é espinho que cala fundo, por isso, que talvez, no fundo tudo se cala, aprender a viver só, não traduz só viver. Respeitou seu gosto pelo vinho e disse que a bebida era um elixir dos sonhos, aproveitou e encheu as taças, deram-se um brinde e beijaram-se com os olhos e sonharam-se com as bocas!
Ao trazer a conta, o garçom disse-lhes algo de que não se deram conta, não poderiam dirigir, pois consumiram o pior líquido da terra, o álcool, e a lei seca, não aquela da vida de Fabiano e sinha Vitória em Vidas Secas, não a lei que persegue as modelos impondo-lhes a podridão da padrão de beleza, mas sim a lei seca do governo, que privou homens e mulheres de dirigir suas vidas, pois a bebida agora é proibida, sim "Pai, afasta de mim esse cálice!", sim agora o cálice é cálice, mas como diria Chico Buarque: "Como beber dessa bebida amarga?".
Saíram da tratoria e resolveram ir embora a pé, olhando as estrelas, ela cultivando jardins, ele projetando imóveis, enquanto suas pernas ainda estavam móveis, ela subiu num muro e equilibrou-se, desceu, resolveu atravessar a avenida num zigue-zague entre tartarugas amarelas, abruptamente veio um veículo movido a álcool dos pneus à cabeça do motorista e atropelou a solidária solitária, o arquiteto correu ao seu encontro, mas o chafariz de sua fonte amante jorrava sangue, deixou a mulher na rua, no meio da rua e entrou num bar e pediu uma garrafa de vinho, daqueles de que as uvas teriam vergonha e Baco recusar-se-ia a provar, bebeu se lambuzando e prevendo dias de seca, de lei seca, de vida seca, sem ama-seca, tudo por culpa do governo e de sua “sede zero”!
SINUHE DANIEL PRETO
Moravam em prédios vizinhos e eram inevitáveis os encontros na padaria, na quitanda, no mercadinho do bairro. Às vezes, caminhavam lado a lado sem se perceberem, como é normal neste mundo tão anormal!
Chegou a contemplá-la colocando na rua, sem saber que dia e hora o lixeiro passaria, o lixo diário, até seu lixo era simplesmente um luxo! Vendo-a, um dia, dirigir-se ao ponto de ônibus, correu à garagem, retirou seu veículo e ofereceu a ela uma carona, eufemismo de um passeio romântico, a mulher quis resistir, no entanto, resolveu aceitar, afinal poderia ser o fim de uma curiosidade de quatro anos, lembrava-se dele da última copa , perdida para a França de Zidane, ele tinha mais cabelos, menos barriga e um carro mais popular, ela terminara um relacionamento com um homem deveras mais velho, que já não acompanhava suas idas ao parque, à academia e muito menos à banca, o parceiro trocara-a pela televisão a cabo e suas programações repetitivas, às quais muitos querem dar cabo!
Desde aquela época, quisera conhecer o misterioso homem do olhar enigmático, que sempre a fitara e nunca se apresentara, por isso, aceitou a carona, adentrou o veículo e foram ao destino de cada um , coisa do destino!
Descobriu que ele era um arquiteto, fã incondicional de Oscar Niemeyer, que amava a natureza e achava que havia lugar para o verde e também para os arranha-céus, tudo era questão de respeito e ordem, não necessariamente nessa ordem.
Enfim, depois de criticarem o governo, a moeda corrente no país, verterem lágrimas com as balas da infância do baleiro do boteco da esquina e das balas perdidas de hoje, combinaram um jantar numa tradicional tratoria da cidade, vinho, massa, cantina, olhares, risos, interjeições italianas em alto e bom som, poderia haver situações mais românticas?
Chegou o grande dia, o encontro marcado, começar algo, sim porque sempre há um meio de se encontrar um fim para um começo!
Introduziu-se o ser masculino falando de si, da vida, de amor e de sua vida ébria, fora um boêmio incorrigível e a cada prazer etílico de Baco vislumbrara obras arquitetônicas jamais vistas, palácios, pontes, casas, casebres, mansões, prédios, porém nunca conseguira ver o rosto de seus moradores, dos compradores de seus imóveis, principalmente depois que seus móveis braços e pernas tornavam-se imóveis com o vinho!
Ela preferiu falar das flores, das plantas com quem conversava sempre e que Cartola não tinha razão, pois as rosas falam, não simplesmente exalam, falam e calam como qualquer outro! A solidão é espinho que cala fundo, por isso, que talvez, no fundo tudo se cala, aprender a viver só, não traduz só viver. Respeitou seu gosto pelo vinho e disse que a bebida era um elixir dos sonhos, aproveitou e encheu as taças, deram-se um brinde e beijaram-se com os olhos e sonharam-se com as bocas!
Ao trazer a conta, o garçom disse-lhes algo de que não se deram conta, não poderiam dirigir, pois consumiram o pior líquido da terra, o álcool, e a lei seca, não aquela da vida de Fabiano e sinha Vitória em Vidas Secas, não a lei que persegue as modelos impondo-lhes a podridão da padrão de beleza, mas sim a lei seca do governo, que privou homens e mulheres de dirigir suas vidas, pois a bebida agora é proibida, sim "Pai, afasta de mim esse cálice!", sim agora o cálice é cálice, mas como diria Chico Buarque: "Como beber dessa bebida amarga?".
Saíram da tratoria e resolveram ir embora a pé, olhando as estrelas, ela cultivando jardins, ele projetando imóveis, enquanto suas pernas ainda estavam móveis, ela subiu num muro e equilibrou-se, desceu, resolveu atravessar a avenida num zigue-zague entre tartarugas amarelas, abruptamente veio um veículo movido a álcool dos pneus à cabeça do motorista e atropelou a solidária solitária, o arquiteto correu ao seu encontro, mas o chafariz de sua fonte amante jorrava sangue, deixou a mulher na rua, no meio da rua e entrou num bar e pediu uma garrafa de vinho, daqueles de que as uvas teriam vergonha e Baco recusar-se-ia a provar, bebeu se lambuzando e prevendo dias de seca, de lei seca, de vida seca, sem ama-seca, tudo por culpa do governo e de sua “sede zero”!
SINUHE DANIEL PRETO
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